quinta-feira, 29 de novembro de 2012


Entre o Olho e a Vitrine.
A lente

Percebo todos os dias que a felicidade é a realização da potência de uma ato, e que esse ato não está relacionado a aquisição de objetos, e sim de aquiescência de conceitos e conhecimento. A realização desses atos está mais direcionado a necessidade de prazeres do que de política e altruísmo.”
(Luana Joplin)



O homem é uma animal político Prof Aristóteles?
O que me diz da necessidade do homem de não privar-se de prazer nenhum, de vontade alguma, e de rebelar-se a partir de uma dança, onde o corpo,é a gênesis de sua liberdade? O Homem é um animal que está mais para o consumo do que para as suas ideias políticas.
 Hoje, após uma linda aquisição, senti vontade de escrever uma crônica, sobre cenas cotidianas. Não sei quando e nem como iniciar, porém posso relatar aqui um pedaço do que vi, senti, e não poderei deixar escapar, as ideias que processei.
Diante do tumulto cotidiano,  traduzida e considerada por mim como uma odisséia, posso dizer que, uma das coisas que mais passa pela psiqué de qualquer indivíduo que  se depara com vitrines, seja elas virtuais ou nas ruas, o “desejo” é um dos principais requisitos de nosso consciente, inconsciente e subconsciente. As lojas, e o nosso cartão de crédito, são o nosso SPA psíquico, é o que, podemos chamar de válvula de escape, para fugirmos da loucura. Sofrer, desejar e comprar, é uma seqüência onde envolve um prazer contínuo, quase um orgasmo social.
Lembro-me de ouvir tantas vezes frases com expressões promíscuas, intelectuais e populares definindo o prazer. Frases como: “Nada é mais gostoso do que um cigarro depois do sexo”, “ Nada me dá mais prazer do que ler um bom livro, e discutir sobre ele com um bom café”,  “ Nada é mais gostoso do que beber com os amigos, e falar bobagens”. É. Na qualidade de pesquisadora digo que, já experimentei muitas formas de prazer, mesmo por que, sentir prazer é a chave para continuarmos em ação, é a chave da caixa de pandora.
Tudo envolve prazer; comer, beber, conversar, sair, conhecer, viajar, interagir, comprar.... Ah, comprar! O mundo virou uma farmácia da felicidade. A situação mais extravagante do meu dia, hoje, foi ouvir de uma vendedora de uma ótica, o discurso encantador, e, se permitem-me dizer, pude considerar um “marketing poético”, haja vista que, durante uma conversa longa, enquanto ela me mostrava os produtos, ela soube que eu era professora, e conheceu um pouco do que eu gostava.  Bem, com tanta sedução, fui persuadida, e fui me deixando seduzir por todo aquele mundo, que envolve linguagem, beleza, sensualidade, finèsse e personalitè.
Como uma pesquisadora sobre o fenômeno do consumo na contemporaneidade, que lê sobre várias técnicas, pela qual o mercado consumidor utiliza, conheço todas as armas de sedução do marketing, conheço a sua roupagem apetitosa, suas práticas discursivas sedutoras e ambiciosas, e o efeito psíquico e social que ela causa nas pessoas, a curto e a longo prazo. Sendo assim, voltei para casa.Tentei me esconder na barras das calças de Lipovetisky, e escutei todo o seu deboche diante da minha fragilidade, diante da força que aquele discurso sobre os óculos teve em mim. Não foi cômico. 
Como qualquer indivíduo, precisei de uma válvula de escape, e como estamos falando aqui de prazer, pensei em algo que não fosse tão “consumista”; Uma barra de chocolate suíço, um Vinho Chileno, ou seria melhor uma sobremesa simples na lanchonete aqui do lado de casa, um Petit  Gateau? O desejo pelo consumo persegue. Pensei que, talvez, Doutor Freud estivesse certo em relação aos seus escritos, precisei de uma válvula de escape.  Sexo selvagem? Talvez me faria esquecer como seria gostoso ver o mundo através das lentes daqueles óculos exposto na vitrine. Como disse o vendedor; “ Ela foi feito para o tipo de rosto como o seu, quadrado, com queixo fino.” Se ela tinha razão eu não sei, mas o discurso de personificação do produto, fez com que eu me visse com ele, vivendo, amando, correndo, comprando, sendo. Pensei que, ficou mais difícil resistir a esses tipos de discursos depois que as estratégias de marketing investiram na personificação dos produtos... “Vejo que muitas coisas que estão no mercado foram feitas para mim, pensando em mim”. Eu e um milhão de pessoas como eu.
Comi o chocolate, bebi o vinho, fiz sexo selvagem e me deliciei com o Petit Gateau.... O prazer estava estampado em todas as minhas expressões faciais, em todos os verbetes e situações que me apresentaram naquela noite.
No dia seguinte, mal pude esperar para sair, dar uma volta e ver o dia, sentir o vento e tomar um sol ( sem óculos, pensei), mas andando sem rumo, para sentir a cidade,  sem querer os meus passos se encontraram com aquela vitrine, como se houvesse algo, do tipo a força motriz do “Tao”, que conspirava para a minha união e a do óculos. Desta vez, fui pega de “surpresa”, o sol, o vento, o dia, a vibe de uma seção prazerosa, me fragilizou, e não resisti mais uma vez aos discursos armados e bem vestidos da vendedora, que me disse, após eu pegar o meu cartão de crédito; ”É todo seu, experimente ver o mundo através das lentes de um Vogue”.

                                                                       Luana joplin

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