Entre
o Olho e a Vitrine.
A lente
“Percebo todos os dias que a felicidade é a realização da potência de
uma ato, e que esse ato não está relacionado a aquisição de objetos, e sim de
aquiescência de conceitos e conhecimento. A realização desses atos está mais
direcionado a necessidade de prazeres do que de política e altruísmo.”
(Luana
Joplin)
O
homem é uma animal político Prof Aristóteles?
O
que me diz da necessidade do homem de não privar-se de prazer nenhum, de
vontade alguma, e de rebelar-se a partir de uma dança, onde o corpo,é a gênesis
de sua liberdade? O Homem é um animal que está mais para o consumo do que para as
suas ideias políticas.
Hoje, após uma linda aquisição, senti vontade
de escrever uma crônica, sobre cenas cotidianas. Não sei quando e nem como
iniciar, porém posso relatar aqui um pedaço do que vi, senti, e não poderei
deixar escapar, as ideias que processei.
Diante
do tumulto cotidiano, traduzida e
considerada por mim como uma odisséia, posso dizer que, uma das coisas que mais
passa pela psiqué de qualquer indivíduo que
se depara com vitrines, seja elas virtuais ou nas ruas, o “desejo” é um
dos principais requisitos de nosso consciente, inconsciente e subconsciente. As
lojas, e o nosso cartão de crédito, são o nosso SPA psíquico, é o que, podemos
chamar de válvula de escape, para fugirmos da loucura. Sofrer, desejar e
comprar, é uma seqüência onde envolve um prazer contínuo, quase um orgasmo
social.
Lembro-me
de ouvir tantas vezes frases com expressões promíscuas, intelectuais e populares
definindo o prazer. Frases como: “Nada é mais gostoso do que um cigarro depois
do sexo”, “ Nada me dá mais prazer do que ler um bom livro, e discutir sobre
ele com um bom café”, “ Nada é mais
gostoso do que beber com os amigos, e falar bobagens”. É. Na qualidade de
pesquisadora digo que, já experimentei muitas formas de prazer, mesmo por que,
sentir prazer é a chave para continuarmos em ação, é a chave da caixa de
pandora.
Tudo
envolve prazer; comer, beber, conversar, sair, conhecer, viajar, interagir,
comprar.... Ah, comprar! O mundo virou uma farmácia da felicidade. A situação
mais extravagante do meu dia, hoje, foi ouvir de uma vendedora de uma ótica, o
discurso encantador, e, se permitem-me dizer, pude considerar um “marketing
poético”, haja vista que, durante uma conversa longa, enquanto ela me mostrava
os produtos, ela soube que eu era professora, e conheceu um pouco do que eu
gostava. Bem, com tanta sedução, fui
persuadida, e fui me deixando seduzir por todo aquele mundo, que envolve
linguagem, beleza, sensualidade, finèsse e personalitè.
Como
uma pesquisadora sobre o fenômeno do consumo na contemporaneidade, que lê sobre
várias técnicas, pela qual o mercado consumidor utiliza, conheço todas as armas
de sedução do marketing, conheço a sua roupagem apetitosa, suas práticas discursivas
sedutoras e ambiciosas, e o efeito psíquico e social que ela causa nas pessoas,
a curto e a longo prazo. Sendo assim, voltei para casa.Tentei me esconder na
barras das calças de Lipovetisky, e escutei todo o seu deboche diante da minha
fragilidade, diante da força que aquele discurso sobre os óculos teve em mim.
Não foi cômico.
Como
qualquer indivíduo, precisei de uma válvula de escape, e como estamos falando
aqui de prazer, pensei em algo que não fosse tão “consumista”; Uma barra de
chocolate suíço, um Vinho Chileno, ou seria melhor uma sobremesa simples na
lanchonete aqui do lado de casa, um Petit Gateau? O desejo pelo consumo persegue. Pensei
que, talvez, Doutor Freud estivesse certo em relação aos seus escritos,
precisei de uma válvula de escape. Sexo
selvagem? Talvez me faria esquecer como seria gostoso ver o mundo através das
lentes daqueles óculos exposto na vitrine. Como disse o vendedor; “ Ela foi
feito para o tipo de rosto como o seu, quadrado, com queixo fino.” Se ela tinha
razão eu não sei, mas o discurso de personificação do produto, fez com que eu
me visse com ele, vivendo, amando, correndo, comprando, sendo. Pensei que,
ficou mais difícil resistir a esses tipos de discursos depois que as
estratégias de marketing investiram na personificação dos produtos... “Vejo que
muitas coisas que estão no mercado foram feitas para mim, pensando em mim”. Eu
e um milhão de pessoas como eu.
Comi
o chocolate, bebi o vinho, fiz sexo selvagem e me deliciei com o Petit Gateau....
O prazer estava estampado em todas as minhas expressões faciais, em todos os
verbetes e situações que me apresentaram naquela noite.
No dia seguinte, mal pude
esperar para sair, dar uma volta e ver o dia, sentir o vento e tomar um sol (
sem óculos, pensei), mas andando sem rumo, para sentir a cidade, sem querer os meus passos se encontraram com
aquela vitrine, como se houvesse algo, do tipo a força motriz do “Tao”, que conspirava para a minha união
e a do óculos. Desta vez, fui pega de “surpresa”, o sol, o vento, o dia, a vibe
de uma seção prazerosa, me fragilizou, e não resisti mais uma vez aos discursos
armados e bem vestidos da vendedora, que me disse, após eu pegar o meu cartão
de crédito; ”É todo seu, experimente ver o mundo através das lentes de um
Vogue”.
Luana
joplin
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